http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4756121P41 Breve relato biográfico
Nasci no Rio de Janeiro, capital, mas fui logo morar no interior, na região próxima a Angra dos Reis e Parati. Em seguida morei na capital e aos 11 anos vim para Salvador, onde me tornei baiano. Aos 14 anos meus primeiros ensaios da escrita, me constitui poeta. Dois livros me marcaram em minha adolescência, A Droga da Obediência de Pedro Bandeira lido aos 15 anos onde começara a despertar para a sociedade, suas máscaras e seus sistemas de controle. Aos 16 estava decidido por fazer o curso de história, ser professor universitário e ser engajado nas lutas sociais, um grande desafio auto-assumido tendo em vista a timidez de falar com pequenos públicos à época. Ainda aos 16 (no segundo ano do ensino médio) tentei vestibular para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, passei na primeira fase, mas, na segunda, não entrei por poucas colocações. Naquele mesmo período li o segundo grande livro que me mudou como ser humano, Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. As inquietações e conflitos com uma nova visão de mundo e de educação se confrontavam com aquele ensino focado no vestibular que já o apelidara de “alienante”. À época tomei duas decisões, uma por causa desta angústia de querer sair daquele modelo de ensino e entrar logo na universidade e outra em virtude dos conflitos com minha genitora, com a qual residia desde a separação dos meus pais. A primeira foi fazer uma aceleração do terceiro ano e concluí-lo em seis meses, mesmo sem nunca ter perdido de ano ou ido para a recuperação, a outra foi sair de casa. Aos 17 anos entrei no curso de Licenciatura em História da Universidade Católica do Salvador (passei em primeiro lugar), onde tive minhas primeiras experimentações acadêmicas e de atuação em movimentos sociais.
O Centro Acadêmico de História foi um espaço importante para minha formação complementar, tendo em vista ter sido meu primeiro contato com um movimento social organizado. A partir dele fui estabelecendo conexões com as lutas sociais de outros segmentos como o sindical, os sem terras, as grandes lutas estudantis nacionais, as regionais, a luta dos sem teto e por aí afora fui me identificando cada vez mais com um projeto de sociedade diferente ao do capitalismo. Assim como com uma concepção teórico-metodológica crítico-transformadora e de uma universidade que aliasse teoria e práxis na construção de novas bases culturais da sociedade.
Os debates durante a graduação enriqueceram consideravelmente minha formação na medida em que existia uma rivalidade explícita e uma disputa de concepções teórico-metodológicas. O estigma que recaía sobre os estudantes ligados aos movimentos sociais era de serem pouco competentes e vazios teoricamente, essa também era uma marca que precisava ser combatida com muita leitura e discussão. À época fazia uma leitura muito restrita ao marxismo, faço aqui minha autocrítica tendo em vista ser o memorial um espaço de auto-reflexão sincera e profunda. Havia um ímpeto de defesa quase cega daquela concepção. Não significa que atualmente eu não reivindique uma concepção materialista-dialética dentro da minha produção intelectual, porém de forma mais madura, não excluo a contribuição das demais correntes de pensamento. Nem tão pouco poderia adotar uma perspectiva que não respeitasse uma diversidade teórica, tendo em vista ser professor e trabalhar com formação de professores.
Na graduação, foram poucos os espaços de incentivo para a iniciação científica, infelizmente, a Universidade Católica do Salvador, à época, não estimulava muito a pesquisa. Em contrapartida, no Centro Acadêmico (onde estive durante quase todos os semestres) trazia palestrantes/debatedores de vários lugares do país, exercendo um papel que deveria ser o da universidade no tocante ao desenvolvimento da extensão acadêmica. Naquela época articulei contatos importantes da intelectualidade como Pablo Giantili, Maria Aparecida Aquino, Kátia Queiroz Matoso, o ex-guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional da Nicarágua Raimundo Rosélio, e a ex-Ministra Benedita da Silva, no primeiro debate de uma ministra em universidades baianas.
Foi ainda na graduação que o envolvimento com a educação foi se enraizando, a partir das disciplinas pedagógicas, poucas à época, mas que possibilitaram um contato um pouco maior com Paulo Freire e inicial com Vigotski. Foi a partir desse contato teórico e da identificação com a atividade docente nas escolas que optei em fazer ainda no transcorrer do último semestre da graduação, uma especialização em educação (Docência do Ensino Superior). Onde o contato com as teorias educacionais foi decisivo para uma maior convicção da possibilidade da educação estar a serviço da transformação social.
Ao final do último ano da graduação, 2004, já inserido na especialização, tendo sido aprovado no concurso para professor do Município de Camaçari, passei nas seleções do Mestrado Interdisciplinar em Análise Regional do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador e da bolsa da CAPES.
2 Formação Acadêmica
2.1 Trajetória Geral
Como dito anteriormente, entrei bem jovem na universidade, por opção própria e com uma ainda imatura (mas já existente) convicção do que almejava. Essa convicção amadurece e vai norteando minhas ações na minha formação acadêmica, tendo em vista ter também entrado jovem na pós-graduação, tanto lato quanto stricto sensu, começado a lecionar em Instituição de Ensino Superior aos 22 anos e publicado o primeiro livro aos 25 anos.
Durante a graduação sempre participei (ou organizei) debates acadêmicos, essas experiências sempre foram muito frutíferas para a minha constituição intelectual, por participar de eventos locais, regionais, nacionais e internacionais. Esta prática criada na graduação foi fundamental para que se tornasse um cotidiano no presente. A seguir alguns dos eventos: XIII Encontro Regional dos Estudantes de História, IV Semana de Mobilização Científica da UCSAL, XXIII Encontro Nacional dos Estudantes de Direito, XXII Encontro Nacional dos Estudantes de História, V Semana de Mobilização Científica da UCSAL, II Encontro sobre Educação Patrimonial, I Simpósio de História da UCSal, XXIII Encontro Nacional dos Estudantes de História, XV Encontro Regional dos Estudantes de História, VI Semana de Mobilização Científica, Seminário Nacional sobre a Reforma Universitária, II Simpósio de História da UCSal, II Seminário Nacional sobre a Avaliação Institucional, I Seminário Multitemático de História da UCSal, XXIV Encontro Nacional dos Estudantes de História, XI Congresso Internacional de Educação à Distância, VII Semana de Mobilização Científica, Simpósio Internacional Salvador-Québèc, III Simpósio de História da UCSal, III Seminário Nacional Organização Territorial e Desenvolvimento Local, II Seminário Multitemático de História da UCSal e Encontro de Arquivos Municipais.
Optei pela licenciatura por me identificar com a educação e o ofício de professor, porém fui sentindo gradativamente a carência da pesquisa ainda que a tenha experimentado no Arquivo Público do Estado da Bahia. Meu relatório de estágio orientado pelo professor Carlos Augusto já apontava para uma vontade da pesquisa elaborada e aprofundada, tendo em vista eu já ter desenvolvido uma análise sobre o perfil do público de estudantes do estágio em aspectos sociais, econômicos e culturais.
Quando passei na seleção do Mestrado Interdisciplinar em Análise Regional do Programa de Pós-graduação da Universidade Salvador e posteriormente na seleção de bolsa da CAPES, fiz a opção de interromper a especialização em Docência do Ensino Superior pela Fundação Visconde de Cairu (em parceria com a Associação Baiana de Educação e Cultura) para poder melhor me dedicar aos estudos e atividades exigidas. Retornando no final de 2006 para concluir as disciplinas e somente em 2007 apresentei a monografia intitulada A História Urbana do Presente nas Disciplinas de História Contemporânea das Graduações Presenciais em História de Salvador.
A monografia da especialização investigou e analisou os cursos presenciais de história das faculdades e universidades de Salvador (Bahia), as disciplinas História Contemporânea e as possíveis disciplinas História Urbana do Presente ou História Urbana. Com o intuito de verificar a existência ou inexistência do campo de estudo história urbana do presente nos currículos das referidas graduações.
A importância da pesquisa da especialização residiu no fato da necessidade de diagnosticar se os cursos de história das faculdades e universidades de Salvador estavam tendo o comprometimento em investigar os acontecimentos da atualidade nas cidades. Pois durante algum tempo o conservadorismo dentro dos cursos de história inibiu pesquisas que pautassem a história urbana do presente. O estudo da problemática urbana, mesmo no momento presente, pode ser empreendido por geógrafos, urbanistas, sociólogos, mas, também por historiadores.
Ao diagnosticar a existência, ou não, da disciplina História Urbana do Presente ou de seus conteúdos, a história e a educação estavam lado a lado, salientando para seus profissionais a necessidade constante de uma revisão e de uma discussão permanente dos currículos dos cursos que formavam futuros professores e pesquisadores. Logo que defendida a monografia, adaptei-a para artigo e apresentei-a nos eventos: Encontro Internacional de Educação da Associação dos Supervisores do Estado do Rio Grande do Sul (ASSERS) e no Encontro Nacional da ASSERS.
Ao decidir sobre o tema de pesquisa a ser desenvolvido no Mestrado, tentei aproximar minha atuação em movimentos sociais, e optei por um movimento que acompanhei como ativista social desde sua fundação em 2003, o Movimento dos Sem Teto de Salvador (depois transformado em Movimento dos Sem Teto da Bahia), com a área da educação. Cheguei a montar um esboço de projeto para apresentar ao Mestrado em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia, porém professores de lá me orientaram a não prosseguir na pesquisa naquele programa, pois ainda era um movimento muito recente a ser estudado. No campo da historiografia sofri o mesmo preconceito por causa da temática e de sua temporalidade, alguns professores chegaram a indicar o programa de Ciências Sociais. Foi no Programa Interdisciplinar de Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador que tive maior liberdade para desenvolver a pesquisa sobre os sem tetos, porém sem relacionar à educação.
O primeiro ano do mestrado foi muito enriquecedor, pois transitei por várias áreas do conhecimento de forma não compartimentada, como é a proposta interdisciplinar. Transitei pela Geografia Urbana, Economia, Sociologia, Urbanismo, Políticas Públicas, porém de forma articulada à proposta do campo de saber Desenvolvimento Regional e Urbano. Ao mesmo tempo muito cansativo, pois foram dez disciplinas nos dois semestres, numa verdadeira maratona intelectual para cumprir as resenhas, resumos, artigos, seminários e provas. Sobrou pouco tempo para participar de eventos no mesmo ritmo da graduação, porém foi feito na modalidade apresentação de trabalhos, com publicações de resumos ou de artigos completos.
Somente a partir do segundo ano do mestrado é que foi possível intensificar as pesquisas do mestrado e me dedicar mais profundamente à revisão bibliográfica, coleta e análise empírica. Em dezembro de 2007 defendi minha dissertação de mestrado com 330 páginas (exclusos os anexos) com uma banca composta pelas professoras Dra. Liliane Mariano (Arquiteta e Urbanista, Coordenadora do Curso de Arquitetura da Universidade Salvador e ex-Presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia), Dra. Lina Aras (Historiadora e Diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia) e a Dra. Antonia Garcia (Socióloga e ex-Secretária da Reparação Social da Prefeitura de Salvador). A mesma foi indicada para publicação pelas pareceristas e no primeiro mês cerca de vinte pessoas já entravam em contato comigo para ter uma cópia. O que provocou a necessidade de publicá-la.
Após um período de adaptações, reduções e novas revisões encaminhei de forma independente a publicação do livro MSTS: A Trajetória do Movimento dos Sem Teto de Salvador / Bahia. Recebi proposta da Editora Ex-libris, porém o valor final do livro ficaria muito elevado para a média do valor de um livro de primeira autoria, o que impossibilitaria uma grande circulação do mesmo. Fui ao mesmo tempo autor, revisor, editor, divulgador, distribuidor e vendedor (às vezes parecendo um caixeiro viajante!).
O livro discorre sobre a trajetória do Movimento dos Sem Teto de Salvador (MSTS), estado da Bahia, e adotou como método de abordagem a perspectiva materialista dialética e por procedimento a investigação histórica. O MSTS foi fundado em agosto de 2003 após uma série de ocupações de terrenos ocorridas no bairro de Mussurunga e na Estrada Velha do Aeroporto, região do miolo (região entre a Avenida Paralela, a BR-324 e o bairro do Iguatemi) da cidade. Tendo naquele segundo semestre e no ano seguinte grande destaque na mídia baiana, tanto impressa quanto de radiodifusão e televisiva, criando um impacto significativo no cotidiano da capital, quando passou a ocupar prédios e terrenos públicos e privados, abandonados pelos seus proprietários, e alertar para a sociedade civil, órgãos estatais, mídia e estrutura econômica, a existência daqueles imóveis e de um grande contingente de sem tetos. Aquelas pessoas não tinham onde estabelecer uma moradia própria seja por morar embaixo de pontes e viadutos, em barracos, em encostas, de favor ou de aluguel. Nos anos de 2005 e 2006 o movimento passou por um período de estruturação de sua organização interna, construindo e consolidando fóruns coletivos de decisão e participação, porém sem perder a capilaridade na mobilização e nas ocupações, apesar de certo recrudescimento na cobertura da mídia baiana. No momento da pesquisa de campo, em fevereiro de 2007, foram registrados vinte e cinco núcleos, ocupações e comunidade, onde foram levantadas características da população ocupante e residente, como quantidade de famílias, etnia e tipologia habitacional. O MSTS vem demonstrando ser um movimento social de luta contra-hegemônica à atual sociedade, na medida em que para além da reivindicação pela moradia e reforma urbana, almeja construir Comunidades do Bem Viver, inspiradas em laços de fraternidade e comunhão como as experiências históricas de Canudos e dos Quilombos.
“O autor, Raphael Cloux, através de uma abordagem histórica, analisa a construção do espaço urbano em função dos múltiplos saberes e poderes sobre as cidades. Rico em detalhes sobre o cotidiano dessa comunidade, o presente estudo resulta da vasta pesquisa bibliográfica, documental e de levantamento direto elaborado e vivenciado pelo autor no interior do Movimento, da sua vida e pesquisa acadêmica.”Liliane Mariano
*
“O trabalho de Raphael Cloux vem para demonstrar que o ofício do historiador pode e deve ser exercitado simultaneamente à sua existência e à militância política desde que seu estudo esteja alicerçado numa boa formação profissional. Característica, aliás, que fica evidente ao longo do livro, quando o autor trabalha com diferentes fontes históricas, dialoga com a bibliografia interdisciplinar e, de quebra, apresenta as articulações político-partidárias presentes no cotidiano dos seus depoentes.” Lina Aras*
O livro vem tendo uma aceitação muito positiva, pois antes mesmo do lançamento oficial já haviam sido vendidos diversos exemplares em várias cidades brasileiras e estava sendo comercializado pelo meu site, e pelas livrarias Saraiva e Siciliano em todo o Brasil além da livraria LDM de Salvador. O lançamento realizado em setembro de 2008 no auditório da Fundação Visconde de Cairu (Salvador-Bahia) contou com a presença de cerca de 300 pessoas, dentre autoridades políticas, acadêmicas, representantes de movimentos sociais e estudantes. Uma diversidade e quantidade de público pouco comum em lançamentos de livro que já tive notícias!
Atualmente, em pouco mais de três meses de lançado, o livro já foi divulgado/circulou nas cidades de Salvador, Camacan, Itabuna, Ilhéus, Vitória da Conquista, Barreiras, Juazeiro, Cachoeira, Santo Amaro, Valença, Feira de Santana, no estado da Bahia. Além de outras cidades nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Pernambuco e Pará. Incluindo outros países, como Estados Unidos (Washington e Texas), Suíça (Zurique), Timor Leste e França (Paris).
Minhas publicações já foram citadas em monografias, ensaios e artigos dentre eles o Trabalho de Conclusão de Curso de Cecília Dasdores, as dissertações de Mestrado de Silvia Bochichio e Cezar Miranda (já defendidas) e a tese de doutorado de Renato Macedo (a defender). Em 2008 para a seleção de pesquisadores de iniciação científica da Agência Experimental em Comunicação e Cultura (da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia), um artigo meu estava na bibliografia indicada para a leitura da seleção (CLOUX, Raphael. O Movimento dos Sem Teto de Salvador e a Mídia: Trajetória. Mobilização Social e Conflitos. 2007). No ano de 2006 fui convidado pela faculdade UNIBAHIA para escrever um módulo sobre História Geral e do Brasil para a Coordenação de Projetos Especiais em parceria com a Prefeitura de Madre de Deus. A seguir outros resumos e/ou artigos publicados:
CLOUX, Raphael Fontes. Movimento dos Sem-teto da Bahia: Vila Via Metrô In: Anais do II Seminário de Análise Regional da UNIFACS, 2005. Salvador.
CLOUX, Raphael Fontes. Movimento dos Sem-teto da Bahia: Vila Via Metrô In: I Seminário de Pesquisa e Extensão do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais: Tecnologias e Gestão Social do Território, 2005, Salvador.CLOUX, Raphael Fontes. A Formação do Historiador em História Urbana do Presente na Cidade do Salvador In: Encontro Internacional de Educação da ASSERS, 2007, Salvador.CLOUX, Raphael Fontes. O Movimento dos Sem Teto de Salvador e a Mídia: trajetória, mobilização social e conflitos In: II Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política, 2007, Belo Horizonte.
CLOUX, Raphael Fontes. A História Urbana do Presente nas Disciplinas de História Contemporânea das Graduações Presenciais em História de Salvador. In: VI Encontro Internacional do Fórum Universitário Mercosul, 2007, Aracaju.CLOUX, Raphael Fontes. A História do Movimento dos Sem Teto de Salvador a partir de sua própria Oralidade In: Congresso Nordestino de História Oral, 2007, Ilhéus.CLOUX, Raphael F., CALDAS, Alcides, MARIANO, Liliane. Gestão Socioambiental no Bairro da Mata Escura - Salvador. Anais do Encontro de Gestão em Meio Ambiente - ENGEMA, 2005. Rio de Janeiro.CLOUX, Raphael Fontes. Desenvolvimento Territorial e Urbano e a Questão da Luta pela Habitação em Salvador. In: V Seminário Nacional Dinâmica Territorial e Desenvolvimento Socioambiental, 2008, Salvador.
CLOUX, Raphael Fontes. Vivências e Conflitos na História Urbana do Presente de Salvador (Bahia). In: IV Encontro Estadual de História da ANPUH/Bahia, 2008, Vitória da Conquista.
Durante 2005, 2006, 2007 e 2008 apresentei outros trabalhos e fui convidado para realizar as seguintes palestras/debates: II Semana de Análise Regional e Urbana (apresentei o trabalho Movimento dos Sem Teto da Bahia: A Vila Via Metrô), I Seminário: Segurança e Participação (palestrei sobre a experiência do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais no bairro da Mata Escura – Salvador – numa mesa coordenada pelo professor Gey Espinheira), A História do Movimento dos Sem Teto de Salvador a partir de sua própria Oralidade (apresentação de comunicação em Congresso de História Oral na cidade de Ilhéus), II Congresso da Associação Brasileira dos Pesquisadores de Comunicação e Política (apresentei comunicação em Belo Horizonte – O Movimento dos Sem Teto de Salvador e a Mídia: trajetória, mobilização social e conflitos), IV Encontro Estadual de História da Bahia da Associação Nacional de Pesquisa em História (apresentei o trabalho Vivências e Conflitos na História Urbana do Presente de Salvador – Bahia, em Vitória da Conquista), Seminário sobre Educação e Movimentos Sociais (palestrei sobre este tema na UNEB – Salvador), Conferência sobre Movimento Sociais na Bahia (a convite do professor Ubiratan Castro fui debatedor nesta importante conferência organizada pela Fundação Pedro Calmon), Fórum dos Estudantes de Pedagogia (realizei debate sobre Educação e Movimentos Sociais na cidade de Juazeiro), I Colóquio Regional de Educação - Compartilhando Experiências (fui debatedor na Mesa Redonda sobre Educação e Movimentos Sociais), I Colóquio Regional de Educação - Compartilhando Experiências (realizei Oficina sobre Gênero, Diversidade de Orientação Sexual e Raça/etnia), XX Encontro Estadual das/os Estudantes de Pedagogia (fui debatedor no tema Educação Transformadora na cidade de Barreiras), V Seminário Nacional Dinâmica Territorial e Desenvolvimento Socioambiental (apresentei o trabalho Desenvolvimento Territorial e Urbano e a Questão da Luta pela habitação em Salvador) e Ciclo de Mesa Redonda do Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (palestrei sobre o Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Salvador).
A experiência de orientar trabalhos de conclusão de curso vem sendo muito gratificante, tanto as que assumo formalmente como orientador, quanto as que auxiliei como co-orientador (em geral de forma não oficial). A possibilidade de auxiliar estudantes na construção de suas pesquisas e na sistematização das mesmas nos faz refletir sobre nosso papel enquanto intelectual. Venho buscando assumir a postura de não alterar temas de pesquisa nem tão pouco impor aos orientandos uma perspectiva teórico-metodológica de minha escolha, tento incentivar a autonomia para o auto-amadurecimento. Formalmente orientei os trabalhos sobre: Turismo e Comunidade Remanescente de Quilombo: um estudo de caso do Quilombo das Bananeiras - Ilha de Maré / Bahia; Itapuã: um centro de cultura e turismo; A Inserção da Feira de São Joaquim no Roteiro Turístico de Salvador; A Música Axé como Fator de Atratividade Turística; Mapeamento das Antigas Linhas de Bondes da Cidade de Salvador; e, O Histórico do Cabula e seus Equipamentos que Possibilitam o Desenvolvimento de seu Potencial Turístico. Além dessas, assumi recentemente a orientação de uma monografia sobre As Festas populares na Ilha de Itaparica, e orientei informalmente uma monografia de especialização de Léo Farhá - O Ensino Superior de Gastronomia de Salvador: um estudo de caso (já defendida).
Orientei alguns projetos de mestrado auxiliando em suas respectivas conformações, sendo eles: o de Valdir Almeida Santos – Comunidades Remanescentes de Quilombo Urbano e Rural (Ilha de Maré e Mata Escura) – foi aprovado na seleção e atualmente é bolsista da CAPES; o de Pedro Gusmão – Formação de Empreendimentos Solidários: Um estudo dos impactos em comunidades de Periperi e Mata Escura (em processo de seleção); e, o de Helaine Souza - MÃES DA RESISTÊNCIA: Um Estudo com as Adolescentes Grávidas do Movimento Sem Teto da Bahia no bairro da Mata Escura (em processo de seleção).
Participações em bancas, além das de meus orientandos, foram: Península de Itapagipe: um novo significado do Turismo Cultural em Salvador; A Influência do Cinema no Turismo; A Produção Teatral em Salvador: uma análise sócio-política da oferta teatral local e suas relações com a atividade turística; Doces - Um Arquipélago Cultural: A presença do açúcar na cultura baiana; Planejamento Turístico sob o Ponto de Vista Urbanístico na sede do Município de Itaparica (de 1930); e, Salvador com Outros Olhos: Turismo para deficientes visuais.
Ministrei curso de extensão sobre História da Bahia e do Brasil na Fundação Visconde de Cairu em três momentos nos anos de 2005 e 2006, com atividades externas / visitas técnicas. Organizei uma atividade de extensão em 2008 chamada Curto Circuito de Debates, na já citada instituição, com o intuito de aproximar universidade e Movimentos Sociais. Esta atividade foi articulada à disciplina Educação e Cidadania do curso de Pedagogia, foram selecionados alguns temas para serem apresentados por acadêmicos e integrantes dos movimentos sociais, entre feministas, movimento negro e de diversidade de orientação sexual. Os temas: Feminismo e Participação das Mulheres com Ediane Lopes e Zilmar Alverita; Diversidade de Orientação Sexual com Rafael Digal; Educação e Questão Étnico-racial com Anderson Silva; e, Socialismo no Século XXI - Uma Alternativa Possível, com Hilton Coelho.
No tocante à língua estrangeira fiz a opção de estudar o Francês tendo em vista minha dupla nacionalidade (franco-brasileira) e por ter seguido numa área acadêmica onde importantes teóricos são franceses. O espanhol de leitura foi aprendido desde a graduação e intensificado nos estudos do mestrado.
2.2 Projeto de Curso de Graduação em História e Cultura Afro-brasileira
Realizei em 2008 para a Fundação Visconde de Cairu a elaboração de Projeto de Curso de Graduação em História e História Afro-brasileira (licenciatura). Entendendo que existe uma dívida do Estado e Sociedade brasileiros no tocante ao reconhecimento da diversidade da composição étnico-racial de nossa formação social, bem como quanto na adoção de medidas práticas para a reversão de uma história de mais de quinhentos anos de exploração, opressão e omissão de políticas públicas para a construção de uma efetiva Democracia Racial Brasileira.
A Lei N°. 10.639/2003 constituiu um avanço significativo para o entendimento do Estado Brasileiro da necessidade de inserção do ensino da história e cultura afro-brasileiras nas escolas de todo país. É neste marco político que este projeto de graduação se fundamenta, na medida em que sejam necessários profissionais qualificados para atender a esta nova exigência social. A primeira experiência das Instituições de Ensino Superior do Brasil foi de oferecer cursos de pós-graduação, que não deixam de ser importantes, porém faz-se imprescindível um maior aprofundamento e mais tempo para a construção de profissionais mais preparados, assim um curso de graduação tem mais capacidade de cumprir esta premissa.
A construção deste projeto de curso preocupou-se em estabelecer uma ação efetiva voltada para os anseios do cidadão, do mundo do trabalho e da sociedade em constante transformação, tendo sua elaboração vinculada às exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394/96), bem como a Lei 10.639/2003 que inclui no currículo oficial escolar a obrigatoriedade do ensino de “História e Cultura Afro-brasileira”.
3- Experiência Profissional
Minha primeira experiência profissional foi em 2002 em sala de aula na Escola Municipal Theodoro Sampaio localizada no bairro de Santa Cruz em Salvador para estudantes de 5ª a 8ª série. Foi naquela escola que tive certeza da minha escolha e dos desafios que estavam colocados para a profissão. Ao mesmo tempo conheci empiricamente a realidade da escola pública brasileira de uma periferia de um centro urbano. O calendário acadêmico era também definido, informalmente, pelo narcotráfico local. Quando não era pra ter aula eles comunicavam à diretora com os piores tipos de ameaças. O clima de violência cujas crianças do bairro estavam inseridas refletia diretamente nas posturas assumidas pelas próprias. Qualquer caso de agressão entre colegas de sala logo se tornava uma rixa entre grupos, levando algumas vezes a ameaças com facas e revolveres. Nunca me esqueço certa feita quando num intervalo de recreio a merenda faltara, foi o estopim para um movimento generalizado de quebra-quebra do refeitório e adjacências. Ao mesmo tempo em que recebi este impacto em minha primeira experiência educativa no ensino de Cultura Baiana, percebi empiricamente qual era a necessidade da escola (e da educação em geral) em assumir um papel transformador.
Naquele mesmo ano fui cadastrador do Programa Bolsa-Escola do Governo Federal, o objetivo era ampliar o benefício para mais famílias que mantivessem seus filhos nas escolas. Outra importante experiência para conhecer a realidade da pobreza de um centro urbano. Percorri dezenas de periferias de Salvador, a cada duas semanas o cadastramento era dirigido para outra localidade. Novamente tive um contato mais profundo com o dia a dia daqueles grupos sociais excluídos. Essas duas experiências profissionais iniciais foram muito decisivas na minha formação intelectual, pois as opções teóricas que já havia feito coadunavam pela opção de luta com os excluídos.
No final de 2002 e início de 2003 lecionei geografia para estudantes de 5ª a 8ª série na Escola Estadual Carlos Alberto Cerqueira no final de linha do bairro de São Caetano, também localizado numa periferia de Salvador. Naquela escola pude perceber as diferenças entre o ensino numa instituição escolar municipal e estadual. Em primeiro a disponibilidade de estrutura um pouco mais qualificada na rede estadual, porém para uma demanda de estudantes bem maior. Fiquei pouco tempo pois o ano letivo já estava findando, mesmo assim antes da minha chegada os estudantes tinham ficado meses sem aula, infelizmente, algo muito rotineiro na escola pública.
Em 2003 ensinei no Instituto Central Isaías Alves (ICEIA) localizado na região mais central da cidade do Salvador chegou a ser o maior colégio da América Latina. Foi durante muitas décadas um centro de referência em educação pública (não universitária), formando também muitos estudantes no Magistério. Pela primeira vez dei aulas de história para o ensino médio, 1º e 2º anos, também no regime de substituição. Foi naquela instituição que pude ter mais tempo para desenvolver na prática uma pedagogia mais horizontal e de despertar de sujeitos crítico-participativos (animação social). Um pouco decorrência deste processo, casado à eclosão de uma insatisfação da população contra o aumento do valor da passagem de ônibus, ocorreram grandes manifestações mobilizadas por meus estudantes naquela escola e que deram o estopim para o que ficou conhecida como a Revolta do Buzú. Onde por mais de uma semana milhares de estudantes paralisaram toda a cidade do Salvador reivindicando a redução das tarifas de transporte, bem como ampliação de direitos de meia-passagem.
Estagiei durante o ano de 2004 no Arquivo Público do Estado da Bahia onde realizei atividades de pesquisa e de organização/gerenciamento do Arquivo da Alfândega da Bahia. Tal acervo era inédito e não havia ainda sido pesquisado por historiadores, pois não estava organizado nem catalogado. O primeiro exercício de pesquisa em fontes documentais escritas foi exercido naquele acervo tão valioso e raro, essencialmente do final do século XIX e início do XX.
Entre 2004 e 2005 lecionei história e filosofia para estudantes do primeiro, segundo e terceiro anos do ensino médio no Colégio Estadual de Aratu na cidade de Simões Filho. Estava substituindo a professora concursada que estava afastada por assumir um outro cargo público e somente deixei de lecionar lá por causa das aulas do mestrado serem exatamente no período da regência, o noturno. Posso afirmar com sinceridade que neste período, o fato das correntes teóricas da pedagogia estarem mais aguçadas, em virtude de estar fazendo a especialização em Docência do Ensino Superior, consegui consolidar as experimentações empíricas. Relacionando com a teoria não de forma vertical e sem interação, mas testando teorias e revendo-as a partir da experimentação empírica. Adotei a roda como um instrumento permanente e não sazonal de relações dentro de sala de aula, as explicações partiam da realidade daqueles estudantes (em geral trabalhadores) para o geral, além de estimular veementemente a participação da oralidade, construímos um “material didático” (um pequeno livreto fotocopiado com conteúdos e linguagens elaborados por eles).
Em virtude deste trabalho uma professora me convidou para que lecionasse história e geografia em sua escola particular ligada à Rede Dom Bosco de ensino para estudantes da 5ª e 6ª séries do ensino fundamental. Entrei já no final do ano e percebi uma diferença social muito grande frente as minhas outras experiências para aquelas mesmas séries. A pequena escola atendia a um público de classe média de Simões Filho e tinha uma outra particularidade frente a outras experiências, os estudantes eram muito mais novos. Foi um exercício importante na descoberta de jogos e brincadeiras educativas, utilizando a ludicidade como ferramenta para o aprendizado. Não pude continuar em virtude do aumento de leituras e estudos do mestrado.
No começo de 2005 fui convocado pela Prefeitura Municipal de Camaçari após admissão em concurso público (8ª colocação) para assumir o cargo de professor de história no distrito de Abrantes (no Litoral Norte). Ao mesmo tempo fui admitido em seleção para a bolsa de estudos da CAPES no mestrado. Tive que tomar uma decisão difícil, de não assumir um cargo público concursado, porém que colocava em jogo a possibilidade de poder me dedicar mais aos estudos acadêmicos e seguir a carreira na docência superior, onde eu planejava estar desde muito cedo.
A bolsa da CAPES foi fundamental para custear meus estudos e financiar parcialmente minha pesquisa. Como informado realizei um mestrado interdisciplinar numa universidade paga e o custo mensal da pós-graduação era muito elevado para minha realidade financeira. A CAPES possui um convênio com a Universidade Salvador onde a mensalidade do bolsista é custeada integralmente pela instituição pública, assim como mais de 70% de uma ajuda de custo mensal (do valor tabelado para qualquer bolsista CAPES de mestrado do Brasil), e a universidade entra com 30%. A bolsa, porém, passa a não ser somente de estudos, cada mestrando tem que dedicar 20 horas de trabalho (no mínimo) para o programa.
A partir disso fui designado pelo programa de pós-graduação a assumir diversas funções dentre elas a de Secretário de Organização do Congresso Bienal da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional realizado em Salvador. O evento mais importante desta área de pesquisa e que apesar de nacional, tem uma abrangência internacional, articulando grupos de pesquisa da América do Sul, Estados Unidos, Europa e Índia. Diversos pesquisadores vinculados a esta associação desempenham funções na administração pública, ocupando cargos de Secretários Municipais e Estaduais, além de Ministros. Foi uma experiência importantíssima para obter sapiência na organização de grandes eventos, transcendendo minhas experiências durante a graduação.
O Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais (LTECS) foi o principal espaço onde trabalhei para o programa de pós-graduação, atuei como gerenciador, elaborador de projetos e na coordenação dos projetos sociais. O LTECS desenvolve no bairro da Mata Escura, Salvador-Bahia, estudos e pesquisas de requalificação sócio-ambiental, o qual tem como objetivo principal contribuir para a redução das desigualdades espaciais da cidade, através de projetos que possam intervir na melhoria da qualidade de vida dessa população e requalificar os espaços ociosos para uso público, transformando-os em espaços de sociabilidade para a população local. O LTECS constitui-se em um projeto inovador que desde sua criação em 2005, teve a idéia de ser um canal de atuação entre a universidade e a população dos bairros periféricos de Salvador, através de pesquisas e ações em prol da sociedade. O LTECS foi oriundo da parceria inicial entre a Universidade Salvador e a Universidade do Estado da Bahia (Programa de Educação e Contemporaneidade) na construção da AGENDA XXI no referido bairro, após a conclusão deste projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia a UNEB se desvinculou. Esta experiência teve um significado especial por ter possibilitado além da discussão do papel da universidade frente à sociedade, construiu ações práticas de apoio a comunidades periféricas excluídas.
Durante o período em que trabalhei para o programa participei da equipe que formulou e aprovou o projeto de revisão / elaboração do Plano Diretor do Município de Entre Rios. Minha atuação se deu na elaboração do projeto que foi aprovado e financiado pelo CNPq. Passei em 4º lugar no concurso para professor da Secretaria Estadual de Educação para o município de Santo Amaro da Purificação, porém não fui convocado e o concurso expirou sua validade mínima.
Em 2005 ministrei curso de extensão em História da Bahia para estudantes de Bacharelado em Turismo da Fundação Visconde de Cairu, foi minha primeira experiência de docência no Ensino Superior. O formato era focado nos aspectos históricos e culturais da Bahia, mesclando aulas em sala de aula e aulas externas (visitas técnicas). Foram cerca de três turmas formadas neste curso, onde experimentei a saída de estudantes dos “muros” da faculdade. Ainda naquele ano fui convidado para ser professor substituto da professora Tereza Vilaça durante um período do segundo semestre.
Em 2006 com o afastamento do professor Marivaldo do Amaral, em virtude de sua aprovação no concurso da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, fui convidado para assumir as disciplinas História do Brasil e Bahia, na graduação de Turismo, e História da Educação, na graduação de Pedagogia. No ano seguinte assumi a disciplina Filosofia da Educação e, a partir de 2008, Educação e Cidadania, ambas no curso de Pedagogia.
Na disciplina História do Brasil e Bahia foram trabalhados conceitos relativos à história do Brasil e da Bahia sua relação com os acontecimentos dentro do processo histórico/cultural. Análise e compreensão do sistema colonial brasileiro como base para a formação cultural do povo brasileiro. Relação entre as diversas fases da História brasileira e as expressões culturais e artísticas da contemporaneidade.
Em História da Educação foram debatidas as experiências da educação formal brasileira. Analisando a construção sócio-cultural dos sujeitos e grupos sociais, através da educação. O cristianismo na educação européia, e as mudanças vivenciadas durante o renascimento das cidades, as novas concepções de mundo que emergiam a partir dos séculos XI. Análise da Educação Jesuítica no Brasil Colonial, e a configuração do modelo europeu na construção da sociedade brasileira. A educação no período Imperial e Republicano do Brasil.
Na disciplina Filosofia da Educação foram estudados os princípios que norteiam a ação pedagógica, identificando as contribuições da filosofia para a educação. Análise e compreensão das características sociais, políticas e econômicas da contemporaneidade à luz dos novos paradigmas para a educação, promovendo reflexões críticas sobre o projeto da filosofia através do confronto entre diferentes “olhares”, discutindo questões-chave para o entendimento da realidade.
Em Educação e Cidadania refletiu-se sobre o papel dos profissionais em educação, seu papel frente à sociedade; o papel dos paradigmas culturais na manutenção ou reestruturação das relações sociais; relações de gênero, machismo e patriarcado; diversidade de orientação sexual e homofobia; racismo e relações étnico-raciais; movimentos sociais; hegemonia e contra-hegemonia; e, alternativas de poder.
Durante a docência nas referidas disciplinas, uma das metodologias adotadas foi a de proporcionar uma formação visando a ruptura da clausura do conhecimento acadêmico restrito à sala de aula e ao “intramuros”. A adoção das visitas técnica (aulas externas) se constitui enquanto um elemento fundamental para a formação de futuros professores, pois se não for criado o hábito de conhecer o mundo externo e problematiza-lo nele próprio há um risco de que a sobreposição de discussões teóricas se acomode num cotidiano que não favoreça efetivamente para a auto-sensibilização ou auto-convencimento da possibilidade de transformação. As visitas técnicas mesclam a ludicidade a maior participação num espaço onde não existe o mesmo rigor formal comportamental da sala de aula, os estudantes se sentem mais livres. Ao mesmo tempo do que adiantaria ficar só em sala falando sobre história e cultura baianas tendo um “laboratório vivo” externo fantástico. As saídas sempre são marcantes nos depoimentos de avaliação das disciplinas ministradas, sela pelo conhecimento cultural/histórico, seja pelo despertar de auto-reflexões (auto-sensibilização).
As visitas são divididas em dois campos, um cultural/histórico, direcionando o conhecimento de manifestações culturais, do patrimônio artístico, cultural, histórico e natural. E, outro, social, proporcionando experimentações e vivências em ambientes sociais de comunidades excluídas e de instituições que atuem junto a movimentos sociais e comunidades excluídas. Qualquer mudança de paradigma cultural-simbólico implica numa ruptura de valores/práticas hegemônicas para adoção de um novo arcabouço teórico e comportamental. Neste sentido, adotando uma orientação dos interacionistas, da necessidade do meio social e das interações sociais para uma reorientação de paradigmas, venho buscando proporcionar, para além das discussões teóricas em sala, interações em ambientes sociais/culturais no sentido de promover uma auto-sensibilização e auto-convencimento para a tomada de ação prática transformadora.
Não somos capazes enquanto professores de apagar a memória dos estudantes e implantar uma nova, a reconstrução de paradigmas se dá por opções de auto-transformação. Por isso para além de uma “libertação”, nosso papel é o de “animadores”, nós provocamos a auto-sensibilização, não sensibilizamos as pessoas, de mesmo modo não convencemos ninguém, os indivíduos sociais se auto-convencem; nem tão pouco podemos vestir ninguém com uma roupa de super-herói e acreditar que assim tal pessoa fará as transformações sociais que nós achamos significativas. Neste sentido a capacidade que temos é muito mais restrita do que se acreditou, porém não menos decisiva. Se não podemos (nem queremos) fazer uma verdadeira lavagem cerebral, somos capazes de proporcionar experimentações em ambientes sociais e reflexões teórico-empíricas que podem possibilitar a indignação, a reflexão crítico-propositiva e a práxis transformadora dos estudantes. E em se tratando de futuros professores e professoras, essa animação é ainda mais indispensável, pois se os mesmos se despertam para a necessidade de uma nova sociedade, serão eles (e elas) quem conseguirão transformar as novas gerações.
A seguir algumas das visitas técnicas organizadas pelas disciplinas ministradas (algumas feitas em conjunto com outras disciplinas e coordenações de curso):
àVisita ao Centro Histórico de Salvador
Objetivo: Proporcionar ao estudante informações/reflexões sobre a história de Salvador e o bairro por onde estuda e freqüenta diariamente (no caso da Fundação Visconde de Cairu), bem como sobre aspectos da história da educação na Bahia e no Brasil.
àVisita à Faculdade de Medicina, ao Museu Afro-brasileiro e ao Museu Etnográfico
Objetivo: Proporcionar ao estudante informações/reflexões sobre a história e cultura afro-brasileira e indígena, bem como sobre a formação da educação superior no Brasil e na Bahia.
àVisita à Ocupação do Movimento dos Sem Teto de Salvador, ao Trem do Subúrbio Ferroviário e ao Bairro da Calçada
Objetivo: Despertar a animação de sujeitos sociais a partir da constatação empírica das desigualdades sociais, bem como proporcionar informações sobre tópicos da história de Salvador.
àVisita ao Instituto Feminino, ao Museu de Vestimentas e ao Museu de Arte Popular da Bahia
Objetivo: Proporcionar informações/reflexões ao estudante sobre a história da educação feminina na Bahia, bem como sobre aspectos da cultura e história da Bahia.
àVisita à Fundação Steve Biko
Objetivo: Despertar a animação de sujeitos sociais a partir da constatação-reflexão-participação de experiências em educação de estudantes negros nas periferias da cidade do Salvador.
àVisitia à ONG CRIA
Objetivo: Despertar a animação de sujeitos sociais a partir da constatação-reflexão-participação de experiências em arte e educação de estudantes das escolas públicas das periferias da cidade do Salvador.
àVisita à Chapada Diamantina
Objetivo: Proporcionar informações/reflexões ao estudante sobre o patrimônio histórico, natural e cultural da região da Chapada Diamantina na Bahia.
àVisita ao Circuito Cultural do Cemitério do Campo Santo
Objetivo: Proporcionar informações ao estudante sobre a história do patrimônio cultural e histórico da Bahia, bem como perceber as diferenças sociais mesmo após a morte.
àFeira de São Joaquim
Objetivo: Proporcionar informações/reflexões ao estudante sobre as interações sócio-culturais no cotidiano das feiras livres, bem como provocar reflexões sobre a relação de trocas estabelecidas entre a Salvador e Recôncavo pela Baía de Todos os Santos.
àTerreiros de Candomblé (Gantois, Casa Branca, Opô Afonjá)
Objetivo: Proporcionar informações ao estudante sobre a história e cultura afro-brasileira, bem como problematizar sobre o respeito à diversidade religiosa e a prática da discriminação e intolerância religiosa. As visitas foram feitas também em momentos do xirê (“festa para os orixás”)
àFortes da Cidade do Salvador
Objetivo: Proporcionar informações ao estudante da história do Brasil e da Bahia, bem como provocar reflexões sobre a relação de trocas estabelecidas entre a Salvador e Recôncavo pela Baía de Todos os Santos.
A metodologia de planejamento das atividades e avaliação adotadas foi sendo aperfeiçoada até chegar ao formato de apresentação por parte do docente de um Plano de Atividades, relacionada aos objetivos da disciplina, bem como de sugestões de avaliações, porém a definição é definida nos primeiros dias de aula pelos estudantes, podendo ser revista e reformulada ao longo do semestre. Com a adoção dessa metodologia há uma tentativa do docente em horizontalizar ainda mais as relações, reduzindo a sua “autoridade” e criando o espaço para o empoderamento dos estudantes. Em nossa avaliação para a ocorrência da Animação Social, os espaços de decisão devem ser coletivizados em sala de aula.
Em 2006 participei da seleção para professor efetivo da Universidade Federal do Piauí, para a disciplina História do Brasil no campus da cidade de Picos (semi-árido piauiense). Foram abertas duas vagas e a seleção foi composta por três etapas: Prova Escrita, Aula Pública e Títulos. Nas duas primeiras etapas fui aprovado e obtive a 2ª colocação, porém na etapa de Títulos, descobri que eu (ainda mestrando à época) estava concorrendo com doutores e pós-doutores com mais de dez anos de atuação na área acadêmica, conclusão, acabei não sendo aprovado.
Realizei nas Faculdades Integradas Ipitanga (UNIBAHIA) atividades junto à Coordenação de Projetos Especiais em parceria com a Prefeitura Municipal de Madre de Deus no ano de 2007. O projeto consistiu na implantação de curso preparatório para vestibulares para a população de baixa-renda do município. Ministrei aulas de História Geral e do Brasil, bem como de Atualidades para um público de 200 pessoas. Foi uma experiência muito significante em virtude de ter que criar dinâmicas de aula para uma verdadeira “multidão”.
Entre 2007 e 2008 desenvolvi atividades de ensino-aprendizagem com Comunidades Rurais Quilombolas na região do Município de Senhor do Bonfim e entorno, localizado no semi-árido baiano. A sede do projeto ficava no distrito de Tijuaçu, no referido município, e foi conduzido pela Associação Quilombola Agropastoril de Tijuaçu e financiado pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. O objetivo era fortalecer os laços de identidade cultural, bem como discorrer sobre a luta do povo negro e suas tradições construídas num Brasil Africano, com a população rural das Comunidades Remanescentes de Quilombos que haviam solicitado o seu reconhecimento junto à Fundação Palmares.
Em 2008 ministrei aulas para o curso de extensão Projeto de Formação de Educadores Sociais da Faculdade Mosteiro de São Bento em Parceria com as Organizações Não-Governamentais ACOPAMEC, IPSIA, TEOFIL e o Ministério das Relações Exteriores da Bélgica. O curso visa formar Educadores Sociais (numa perspectiva da animação social) trabalhando com pessoas ligadas a movimentos sociais, grupos culturais e produtivos da cidade do Salvador. Trabalhei em dois módulos os temas relacionados a Estado, Sociedade e Economia; bem como, a Formação da Sociedade Brasileira e Alternativas de Projeto de Poder.
4- Outras Experiências
Desde meados de 2007 venho desenvolvendo um projeto de estudo dos rituais Africanos e Indígenas tradicionais mantidos pelo Candomblé, bem como das histórias de Encantados (Caboclos de Couro e de Pena, Marujos, Exus e Padilhas), legitimando os Terreiros enquanto Quilombos Culturais, pelo seu papel de manutenção de tradições culturais tradicionais afro e índio-brasileiras. Convém destacar que este projeto se encontra em construção e ainda não está fundamentado teoricamente nem sistematizado academicamente. Em 2008 tive a experiência de conhecer a Capoeira Angola através das aulas com o Mestre Bola Sete, ex-aluno e discípulo do Mestre Pastinha.
Minha experiência em multimídia se deu com a participação no Programa Mosaico Baiano da Rede Bahia onde fui entrevistado sobre a História da Chapada Diamantina. Depois do lançamento do livro diversos estudantes de comunicação, serviço social, contabilidade, história, pedagogia e ciências sociais realizaram entrevistas escritas e áudios-visuais para trabalhos acadêmicos e matérias de jornais das universidades. O site lançado em 2008 – www.raphaelcloux.blogspot.com – vem sendo uma importante experiência numa relação mais direta com um público amplo e que não está no meu cotidiano de sala de aula. Desde o surgimento até a o momento o site teve a visita de mais de 3.400 pessoas com o intuito de se manterem informadas de atividades realizadas por mim ou ler meus artigos e textos. Para além dos acessos espontâneos, mantenho uma rede de banco de dados virtual com cerca de 9.000 pessoas para as quais envio periodicamente as atualizações. Estou em fase de reestruturação do site, o mesmo deve ser configurado como um portal e ter atualizações quinzenais de textos, artigos e notícias elaborados por mim.
No ano de 2008 fui convidado para ajudar a construir o Programa de Governo de uma candidatura à Prefeitura Municipal de Salvador. Desenvolvi Eixos e Propostas para a Política de Habitação no Município, bem como o Programa de Habitação Quilombos Solidários. Dentre os eixos: Enfrentar a Especulação do Capital Imobiliário; Socializar a Riqueza; Construção de Moradias Populares com Alternativas de Trabalho e Renda e Regularização Fundiária dos Imóveis da População de Baixa Renda. O Programa de Habitação Quilombos Solidários faz um resgate cultural à organização e resistência do povo brasileiro, retomando uma ancestralidade de luta e de relações sem exploração. Em linhas gerais o programa visa construir Comunidades Solidárias, para além de uma construção físico-espacial, mas de relações sociais com uma perspectiva de transformação do paradigma cultural hegemônico. Prezando por valores democráticos, de respeito à diversidade étnico-racial, de gênero, etária, de orientação sexual e culto religioso. As casas seriam construídas em mutirões com tecnologias e materiais ecossustentáveis e se fomentariam alternativas de trabalho e renda através do cooperativismo popular solidário e sustentável.
Em dezembro de 2008 constituí, em conformidade com outras pessoas, a Associação Beneficente João de Barro, com o intuito de ser uma instituição que forneça apoio e assessoria aos movimentos sociais, culturais e grupos sociais excluídos do estado da Bahia. Dentre as finalidades da instituição encontram-se, promover: A Cultura Popular Brasileira e das Comunidades Tradicionais de Ancestralidade Indígena e Afro-brasileira; A Educação Popular e Formação Profissional, estimulando a Sensibilidade Crítica e Animação social, Elevando a Auto-estima; Os Direitos Humanos; A Habitação Popular e Regularização Fundiária; A Assistência Social; A Saúde Coletiva Preventiva; O Respeito à Diversidade de Orientação Sexual e Combater a Homofobia; A Emancipação Étnico-racial e das mulheres, Combatendo o Racismo e Machismo; A Economia Popular Solidária e o Desenvolvimento Sustentável; O Ecumenismo e Combater à Intolerância Religiosa; A Acessibilidade à Comunicação, e Sistemas Áudios-visuais e de Multimídia; A Inclusão Digital; A Acessibilidade para Portadores de Necessidades Especiais; A Juventude e a Garantia de seus Direitos; O Esporte e Lazer; Fomentar o desenvolvimento social, educativo, e econômico sustentável da sociedade, combatendo a exclusão social; e, A preservação do meio ambiente.
* Fragmentos da Apresentação e Prefácio do Livro MSTS: O Movimento dos Sem Teto de Salvador / Bahia